O Apagão, a Ilusão de Controlo e o Cisne Negro

O apagão que mergulhou Portugal e Espanha na escuridão a 28 de abril de 2024 não foi apenas uma falha técnica. Foi um choque coletivo — um lembrete de que, por mais avançados que sejamos, não temos o controlo.

A surpresa para este tipo de acontecimentos provoca expõe uma falha no nosso pensamento: a ilusão de controlo.

O que é a ilusão de controlo?

É a tendência das pessoas para superestimar a sua capacidade de controlar eventos, mesmo quando são claramente determinados pelo acaso. Um exemplo clássico é acreditar que lançar os dados com mais força aumenta a possibilidade de obter um número alto — quando, na realidade, o resultado é totalmente aleatório.

De igual modo, tendemos a acreditar que dominamos sistemas altamente complexos — como redes elétricas, mercados financeiros ou até o clima — quando, na verdade, muitas das variáveis estão fora do nosso alcance ou compreensão. É aqui que entra O Cisne Negro, de Nassim Taleb, publicado em 2007.

O que é um Cisne Negro?

Taleb define um “cisne negro” como um evento raro, imprevisível e com um grande impacto. Só parece evidente depois de acontecer — quando já é tarde demais. O apagão encaixa-se nesse padrão: ninguém o previu ao certo, mas mal aconteceu, surgiram explicações rápidas e certezas retroativas.

O mais preocupante, como Taleb sublinha, é o excesso de confiança nos modelos e na rotina. Sistemas complexos, como a rede elétrica, funcionam bem — até deixarem de funcionar. São desenhados para a normalidade, não para a exceção. Mas basta um elemento fora de lugar — um erro de software, uma sobrecarga, uma falha de coordenação — e o que parecia robusto desmorona-se em minutos.

Porque é que isto importa?

Porque revela uma fragilidade que ignoramos: a de vivermos num mundo que não controlamos tanto quanto gostamos de pensar. E quanto mais acreditamos nessa ilusão, mais desprevenidos estamos para o próximo cisne negro.

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