Portugal ocupa o 8.º lugar entre os países menos produtivos da Europa, apresentando níveis de produtividade que equivalem a cerca de metade dos registados na Alemanha, França ou Países Baixos, e menos de um terço face à Irlanda ou Luxemburgo. Este défice estrutural levanta questões profundas sobre a organização económica, o tecido empresarial e as políticas públicas nacionais.
A explicação mais comum para esta realidade aponta para a elevada proporção de microempresas e para a fraca qualidade da gestão. Entre os fatores estruturais destacados incluem-se a escassa adoção de inovação e tecnologias avançadas , uma cultura empresarial avessa ao risco e à iniciativa, níveis de qualificação deficitários entre os gestores, modelos organizacionais excessivamente hierárquicos e uma limitada autonomia decisória nas estruturas empresariais.
Contudo, limitar a análise à dimensão e gestão das empresas é reduzir um problema sistémico a fatores internos empresariais. É necessário ir mais além.
O sistema fiscal português, por exemplo, impõe uma carga tributária elevada sobre os rendimentos das empresas, o que desencoraja o investimento de empresas inovadoras ou de maior escala, que poderiam ser catalisadoras de transformação produtiva. Esta configuração fiscal, longe de ser neutra, molda o próprio perfil do tecido empresarial.
A qualificação dos trabalhadores é outro dos vetores críticos. Apenas cerca de 30% da força de trabalho possui ensino superior, de acordo com o INE. No entanto, importa interrogar se a subqualificação é causa ou consequência: os baixos salários e a escassa valorização do conhecimento não estimulam a procura por qualificações, nem incentivam o regresso de quadros qualificados emigrados.
A estrutura económica portuguesa, fortemente dependente do turismo, também pesa. Apesar do seu peso no PIB, o turismo é uma atividade com fraco valor acrescentado por trabalhador, pouco suscetível de ganhos exponenciais via inovação ou automação. A aposta estratégica neste setor revela-se, assim, uma opção limitada em termos de ambição produtiva.
As consequências desta realidade são claras: salários baixos, estagnação económica e, por extensão, pobreza estrutural. Um em cada quatro trabalhadores aufere apenas o salário mínimo nacional — um reflexo direto da baixa produtividade. Como bem sintetizou Paul Krugman, “produtividade não é tudo, mas a longo prazo é quase tudo”. E em Portugal, esse “quase tudo” parece ainda uma promessa distante.
A ligação entre produtividade e pobreza é direta: Portugal continua a ser um dos países mais pobres da União Europeia. Em 2021, 22,4% da população encontrava-se em risco de pobreza ou exclusão social, acima da média europeia (21,7%). Sem apoios sociais, esse número dispararia para 4,4 milhões de pessoas — mais de 40% da população — sobrevivendo com rendimentos mensais abaixo dos 554 euros, segundo a Pordata.
Mais do que uma estatística, a produtividade é um espelho das escolhas políticas, económicas e sociais de um país.